Após muitas incertezas e preocupações por parte dos fãs, a série live-action de uma das obras mais icônicas de todos os tempos, já está entre nós. Em um mundo onde adaptações em live-action geralmente não funcionam, estaria uma das obras mais caricatas do universo dos mangás, pronta para receber uma nova roupagem?

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O histórico de adaptações em live-action que deram certo, quando o assunto é adaptar um anime ou mangá, não é muito positivo. Quando Hollywood falha até mesmo em adaptar obras mais ”pé no chão” como Cowboy Bebop, é simplesmente impossível imaginar que One Piece, uma obra muito mais fantasiosa e caricata, obteria êxito em acertar o tom de sua adaptação para live-action, mas sim, eles conseguiram acertar.

Até certo ponto, é simplesmente impossível você não se agradar com o primeiro episódio da série. É animador ver tanta referência sendo feita com cuidado, e até mesmo, momentos onde a série consegue ser mais fiel ao mangá, do que a série animada.

Contudo, One Piece: A Série carrega o peso de ter que adaptar todo o universo rico e complexo criado por Eiichiro Oda, trazendo isso para uma mídia completamente diferente, com um público diferente, e claro, com gostos diferentes.

A trama

Reprodução: Netflix

Por mais que a ideia seja de que essa é a ”versão da Netflix de One Piece” toda a trama continua bem fiel. Seguimos as aventuras de Monkey D. Luffy, um menino que por influência de Shanks, acaba pegando gosto pela pirataria e possui o sonho de se tornar o rei dos piratas, título esse que anteriormente era de Gol D. Roger, o maior pirata que existiu e deu início a grande era dos piratas.

Mesmo a série sendo extremamente fiel ao seu material original, ela faz sim algumas mudanças positivas, porém, outras mudanças acabam não agradando. A série acaba adiantando alguns encontros, inclusive até mesmo usando os mesmos diálogos de 400 episódios no futuro, entretanto, isso acaba não sendo visto de forma positiva, já que passa a impressão de que a série não vai passar de seu primeiro ano.

Um fator que acaba ajudando muito nesse pensamento são encontros extremamente rápidos entre personagens, relações não tão bem construídas e passagens tímidas por arcos e lugares importantes do material original. Tudo isso acaba transformando aquele gigantesco universo de Eiichiro Oda, em algo vazio, sem graça e completamente limitado.

Elenco

A escalação de atores para o núcleo principal do elenco é simplesmente incrível, todos funcionam super bem com seus personagens, e alguns mostram que realmente entenderam como o seu papel funciona na série, principalmente Iñaki Godoy (Luffy), Mackenyu Arata (Zoro), Emily Rudd (Nami) e Taz Skylar (Sanji).

Usopp, um dos personagens mais queridos do mangá, que foi interpretado por Jacob Gibson, acabou não tendo tanto destaque assim. Detalhe que isso não foi culpa do ator, o roteiro da série acaba fazendo uma introdução extremamente pobre para o personagem, e acaba que o Usopp, durante toda a série, não possui nenhum momento ou fala memorável, deixando ele como um completo coadjuvante e o pior chapéu de palha em cena.

Reprodução: Netflix

Caracterização

Sempre foi difícil imaginar como seriam os espalhafatosos personagens de One Piece em uma adaptação de Hollywood, entretanto, nessa parte a série simplesmente superou todas as expectativas. Além de muitos personagens estarem extremamente fiéis aos seus visuais originais, mas sem parecer um cosplay barato, muita adaptação visual funcionou extremamente bem para esse novo formato. No geral, todo o figurino e maquiagem da série está excelente.

Cenários

Um outro ponto positivo da série foi em relação as suas locações, todas muito bem escolhidas para adaptar lugares marcantes da obra original. Um destaque fica para a mansão de Kaya, onde se passa o arco do Capitão Kuro.

Por mais que a batalha contra Kuro não se passe exatamente na mansão, a adaptação da Netflix conseguiu fazer algo muito legal aqui, onde o clima do arco muda completamente o tom da série, e em certos pontos, passa uma vibe completamente aterrorizante, tom esse que combinou bastante com o vilão em questão.

Reprodução: Netflix

Coreografia e Efeitos Especiais

Podemos finalmente respirar aliviados sobre os efeitos especiais dessa série, que sim, eram a principal preocupação dos fãs do anime. Os efeitos estão bons, até mesmo os de Luffy, que basicamente precisa sempre estar acompanhado de um efeito especial. Além de serem bons, para o tamanho da série, são convincentes e consistentes.

Já a coreografia, dependendo do personagem, é sim muito boa. Combates com personagens como Zoro e Sanji foram sempre os mais divertidos de se assistir.

Roteiro

O roteiro da série funciona até certo ponto, porém ele pode acabar não agradando uma grande parte do público. Além de mudanças em acontecimentos da obra original, que até funcionam, em muitos momentos a série acaba forçando a participação de certos personagens, em especial Garp e Coby.

Reprodução: Netflix

A utilização dos mesmos personagens o tempo todo passa a total impressão de que o elenco da série é minúsculo, e nisso, a série fica dando voltas no mesmo lugar, tornando o mundo do live-action pequeno e vazio. Todos esses elementos e características de como a série funciona, acabam fazendo o mundo de One Piece parecer bem menor, do que realmente é.

Mas e aí, vale a pena começar One Piece pela série?

A versão live-action de One Piece funciona sim para todo um novo público, e acredito fortemente que para o pessoal mais jovem, pode fazer sim eles correrem atrás do material original. Entretanto, começar pela série, pode fazer com que certos momentos icônicos do material original, percam o seu peso em cena.

Considerações finais

O live-action de One Piece funciona super bem, possui um elenco carismático que poderia sim carregar a série por vários anos, entretanto, a adaptação se limitou muito e abusou um pouco de sua liberdade criativa, tornando todo o universo de Eiichiro Oda extremamente pequeno e vazio.

A série pode sim funcionar para novos viajantes, porém, ter o seu primeiro contato com One Piece assistindo todos os episódios do live-action, pode acabar estragando a sua experiência com o material original, onde certas cenas, vão perder o seu completo peso.

Devido as decisões da série, não dá para saber se teremos uma segunda temporada, contudo, se tiver, a tendência, visto as escolhas de seu primeiro ano, é a série piorar com o tempo.

REVER GERAL
Direção
Roteiro
Elenco
Fotografia
Trilha Sonora
Figurino e Maquiagem
Edição e Mixagem de som
Luis Nascente
Apresentador do canal Lulu Checkpoint e do podcast Café com Nerdice, formado em marketing, fanboy da Square e nerdão dos animu!
critica-one-piece-live-action-surpreende-mas-acaba-falhando-em-traduzir-o-universo-de-eiichiro-odaAcertando em quase tudo, o live-action de One Piece surpreende e agrada bastante logo de começo, entretanto, a adaptação acaba falhando no fator principal da série original: o universo. Infelizmente, a Netflix acabou não traduzindo muito bem o rico universo de Eiichiro Oda para esse novo formato.