Com autoria de Rick Remender, Greg Tocchini e Dave McCaig, Low foi inicialmente publicado em 2014 pela Image Comics e agora chega ao Brasil pela Devir em dois volumes encadernados.

Sinopse e World Building

Low se passa em um futuro distante onde o Sol começou a se expandir, forçando a humanidade a viver em domos no fundo do mar e sondas espaciais lançadas com o objetivo de achar um planeta habitável não renderam frutos. Agora a humanidade espera uma lenta morte por falta de oxigênio. Nós seguimos Stel, uma mulher que prega a esperança de uma forma quase que religiosa, seu marido e seus três filhos. Ela descobre uma pista de uma única sonda espacial que caiu na superfície da Terra, mas não teve seus dados analisados.

Low

O quadrinho é ambientado em um planeta Terra que se tornou um ambiente hostil dentro e fora dos domos debaixo d’água e a história não para seu ritmo para se explicar. Isso adiciona muito bem à atmosfera que a narrativa quer criar e algumas genuínas surpresas ao decorrer da leitura, fazendo a dimensão dessa nova terra se expandir no imaginário do leitor, só que às vezes isso também pode tornar as coisas mais confusas quando um elemento desconhecido intervém em algum acontecimento sem mais nem menos.

Arte e Cores

A arte de Low é feita por dois artistas, Greg Tocchini que fornece os desenhos e Dave McCaig que é responsável pelas cores a partir da edição N°8. O conjunto do trabalho dos dois gera um resultado curioso. Muitos dos desenhos de Tocchini parecem favorecer muito mais imagens contemplativas, mesmo que cheia de detalhes enquanto as cores de McCaig, nesse quadrinho, podem usar uma paleta de cores muito específica e limitada às vezes. O resultado é uma arte que parece querer passar a impressão de que é conceitual acima de qualquer outra qualidade.

Low

Em quase metade desse primeiro volume de 400 páginas, tudo é pintado com vermelho, laranja e amarelo. Isso machuca muito a paciência do leitor em prestar atenção na própria arte no quadrinho, na quadrinização e em muitas cenas de ação eu simplesmente desisti de entender o que estava acontecendo. Por sorte, isso não se mantém até o fim do volume, onde a história toda muda para outros cenários e a paleta de cores adiciona tons mais frios, permitindo mais legibilidade da arte em geral, mesmo que o problema com cenas de ação não sumam completamente.

Narrativa, mensagem e sofrimento

Low é sobre perseverança diante à adversidades e a obra faz questão de esfregar isso na sua cara por toda a sua duração, uma tragédia grega que descarta qualquer sutileza e subtexto e transforma tudo em diálogos filosóficos caricatos e vai até às últimas consequências disso para o bem, e na maior parte das vezes, para o mal.

Ao decorrer das 400 páginas desse primeiro volume, o elemento comum em todos os momentos é barbárie, cenas brutais e, por algum motivo, nudez surpresa. Capítulo após capítulo a protagonista sofre uma perda ou é submetida a uma situação traumatizante e continua seguindo em frente rogando suas orações se tornando o que eu apelidei carinhosamente de Joseph Climber do Torture Porn. É difícil não odiar a protagonista agindo de maneira completamente descuidada repetidas vezes unicamente por que ela acredita que algo vai acontecer e vai dar tudo certo. Sem contar que a história chega a ser bem previsível quando você entende que sofrimento e eventos desastrosos repentinos é todo o ponto da história, o termo Torture Porn usado anteriormente não foi uma hipérbole. 

Low

Niilismo e perseverança são temas de inúmeras obras e apesar de nem todas conseguirem, muitas delas mantem uma história com eventos desconfortáveis, acontecimentos perturbadores e justificam o uso dessa abordagem. Low escolhe ir por essa rota do jeito mais cartunesca e descaradamente irritante e sem atingir nenhum ponto que as justifique e muitas vezes eu senti que talvez a mensagem final do quadrinho fosse só que niilismo versus perseverança é uma discussão inútil ou que nem devêssemos considerar que coisas boas possam ocorrer e sofrimento é a recompensa dos otimistas, mesmo que o próprio quadrinho fale o contrário com todas as palavras e diretamente ao leitor.

Veredito

Low é um resultado estranho de uma forma de narrativa que tenta ser diferente, mas que em última análise é ruim. Eu respeito a tentativa e vejo onde as coisas experimentadas aqui podem servir de lição para outros autores. Como adversidades cartunescamente opressoras precisam ser enfrentadas com uma esperança igualmente cartunesca, mas não muda o fato que Low não sabe como equilibrar os eventos desagradáveis, história e narrativa e fazer o leitor continuar interessado apesar do desconforto.

Material para review cedido pela editora Devir

REVER GERAL
Enredo
Personagens
Ilustração
Cores
low-vol1-o-fim-de-toda-luz-criticaLow é uma mistura de elementos que não dá muito certo. A arte consegue ser linda porém inelegível e o roteiro vira um testemunho religioso. É difícil entender onde o autor queria chegar com a obra. Low talvez seja um bom caso de estudo sobre o que não fazer em um quadrinho.