Crítica: Final Fantasy VII Rebirth repagina, mas mantém a essência do jogo original — Final Fantasy VII Rebirth se apresenta como o segundo título dessa nova trilogia e tem a difícil tarefa de fazer jus ao legado deixado por Final Fantasy VII na indústria de jogos e no coração dos fãs.

A equipe por trás do jogo é composta por nomes já conhecidos pelos fãs como Tetsuya Nomura e Yoshinori Kitase, porém quem assume o papel na linha de frente nessa missão de primeira classe é Naoki Hamaguchi.

Assim como toda história, tudo depende do desempenho do narrador, e Final Fantasy VII Rebirth faz a arriscada aposta de apresentar uma narrativa dual que felizmente tem mais pontos positivos do que negativos.

Crítica Final Fantasy VII Rebirth
Como Kenichi Suzumura, dublador de Zack Fair, já havia confirmado em entrevista para Famitsu em 2022, o personagem “tem um papel ativo” em Rebirth — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Logo ao início, o jogo apresenta uma recapitulação do que aconteceu no antecessor, Final Fantasy VII Remake, porém se essa manobra basta para suprir o jogo inteiramente para os novos fãs ou não, apenas o lançamento dirá.

*A crítica abaixo não contém spoilers da trama*

O preço do progresso

Adaptar Final Fantasy VII está longe de ser um desafio fácil, com uma linha extremamente tênue entre o absurdo e o incrível, os desenvolvedores conseguiram moldar os ocorridos utilizando os parâmetros atuais, mas sem deixar a essência dos acontecimentos de FFVII de 1997 de lado. 

A sensação de vivenciar Costa Del Sol em seu ápice, ou cair na perdição dos múltiplos jogos em Gold Saucer não poderia ser mais prazerosa. Assim como duas faces da moeda, se por um lado a diversão se tornou mais palpável e envolvente, as cenas trágicas se tornaram mais reais e pesadas.

As mudanças nas inserções de personagens ao longo da trama, como foi o caso de Yuffie, tornaram a narrativa mais coesa e orgânica para o andamento dessa jornada que implementaram no Rebirth. 

Crítica Final Fantasy VII Rebirth
Momentos cômicos e sérios estão muito bem equilibrados ao longo do jogo entre todos os membros da equipe — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Da extensa pradaria de Grasslands a Forgotten Capital esperem uma grande extensão de conteúdo, desde os esquecidos Guerreiros Gi até personagens minoritários como Dyne. De trama principal os jogadores podem aguardar cerca de 45 horas de conteúdo, porém se você é um dos que planeja completar 100%, se prepare para mais de 100 horas de jogatina!

O jogo também apresenta uma nova mecânica, o medidor de afinidade em tomada de decisões com tempo. Dependendo de certas respostas que o jogador escolher para os personagens durante os diálogos, a afinidade com ele avançará e culminará na presença dele em certos eventos futuros. 

Devido às pluralidades de opções ao longo do jogo, o desfecho dos encontros pode ser conferido ao final do jogo em uma seleção a parte onde é possível checar os respectivos níveis de afinidade e configurá-los, assim como a seleção de capítulos pontuais após a conclusão. 

Quanto maior a promessa, maior a expectativa. Se por um lado a implementação de melhorias no design do menu geral deixaram os ajustes mais dinâmicos e agradáveis, o mesmo não pode ser dito da texturização das localidades. A refinação de elementos do mapa parecem ter sido as vítimas da vez e estão pagando o preço pela ampliação de cenário. 

Uma jornada com altos e baixos

Você não usará o faro do Stamp, mas sim os dos Chocobos de cada região que a equipe visitar! Agora com uma liberdade enorme e cenários abundantes em diversidade ecológica, Cloud e seus amigos podem andar na montaria, escalar e até pular obstáculos. 

A estrutura do jogo se assemelha mais com a de mundo aberto do que a linearidade apresentada no Remake – e isso em parte é por conta dos locais que o Rebirth adapta. Algumas localidades são exploradas obrigatoriamente devido às missões principais, já outras são áreas inexploradas (com missões secundárias) dentro da mesma seção.

Crítica Final Fantasy VII Rebirth
Em grande maioria, as missões secundárias (verdes) são extremamente satisfatórias e agregam a trama principal — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Todos os mapas tem uma ambientação própria, o que consequentemente faz a exploração sempre mudar. Isso também se estende aos Chocobos de cada região onde as montarias tem suas respectivas peculiaridades para lidar com aquele ambiente. 

Grasslands foi o primeiro mapa a apresentar a gama de missões opcionais que se arrastaram até o final do jogo, são elas: Torres, Missões de combate, Cristais de invocação, Nascentes anímicas e Protorelíquias. No caso das Protorelíquias, elas são de fato o conteúdo opcional que engrandece a trama pela apresentação de cenas após a conclusão. 

summon
Quando nos depararmos com esses santuários temos que examinar esse cristal de invocação para revelar a matriz de memória e poder desbloquear o summon após vencer a batalha nos desafios do Chadley — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Caso algum jogador já esteja se sentindo saturado em Grasslands ao início do jogo, Gongaga vai te traumatizar, e não pelo o motivo que você está esperando. Além de termos as mesmas levas de missões no mapa que seguem imutáveis até o final do jogo, essa região apresenta um level design maçante e que testa negativamente a paciência do jogador.

Narrativamente o jogo utiliza o que eles chamaram da reativação de “Torres” construídas pela antiga República de Junon ao longo do gameplay para que o personagem expanda seu conhecimento e forneça informações das ramificações chamadas de “Intel” para o Chadley.  

Por falar em Chadley, o personagem aparece de uma forma intrusiva ao ponto de duvidar da capacidade do jogador de interpretar ícones. E como se ele já não bastasse, a equipe de desenvolvimento inseriu uma nova personagem desagradável chamada MAI. Se tivessem optado por menos aparições explicativas em todo mapa, certamente teria tornado a presença do personagem mais orgânica. 

Se por um lado as missões opcionais se apresentaram repetitivas com a finalidade de preencher os mapas das regiões, as missões secundárias são de fato bem divertidas e extremamente diversificadas – e em alguns casos enriquecedoras para a trama. 

“Proteja sua honra”

Caso o jogador já esteja familiarizado com o Remake, o combate do Rebirth não será uma grande surpresa, porém a grande mudança da vez foi na personagem Aerith, que anteriormente se mostrava mais como uma personagem suporte, agora conta com um leve ajuste para combos mais agressivos voltados para causar danos.

Uma das adições mais relevantes que influenciam diretamente no combate são os ajustes que podem ser feitos no Maghnata Books, onde o jogador usará os pontos de habilidade (SP – Skill Points) para aumentar os Fólios da equipe, desbloqueando assim novos poderes para os aliados. 

Desbloquear núcleos de habilidade no Fólio de um personagem aumenta as estatísticas ou também pode adicionar novas habilidades, incluindo a Sinergia. Um personagem ganhará skill points quando subir de nível ou adquirir manuscritos ao longo do jogo, principalmente ao concluir missões secundárias. 

fólio
Os fólios permitem uma pluralidade enorme de combos, o que para alguns jogadores pode deixar até mesmo o modo dinâmico extremamente fácil — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Por conta da implementação dos fólios, o combate se tornou um grande leque de opções que, quando bem utilizado e somado aos equipamentos corretos, o jogador se torna imparável. Ao início do jogo o modo mais árduo é o “dinâmico”, que faz os inimigos se adaptarem ao seu level atual, porém dá para selecionar nos dedos de uma mão os combates que foram realmente desafiadores nesse modo – se você realmente quer dificuldade, embarque no modo difícil após finalizar o Rebirth. 

Vale ressaltar que a narrativa de Final Fantasy Rebirth faz com que o jogador seja obrigado a ter uma rotatividade grande na equipe em missões principais, o que consequentemente te leva a ter que balancear a distribuição de matérias em boa parte do jogo. Apesar desse acerto, não foi implementado nenhum tipo de “perfil de matérias mutáveis” para o jogador salvar o seu “perfil” e inserir mais rapidamente nos personagens.

A equipagem de matéria e uso de habilidades de cada arma segue o padrão do jogo anterior, ou seja, usando as habilidades repetidamente ou identificando as condições de bônus, vai aumentar a proficiência respectivamente. 

combate rebirth
Descer uma chuva de combos calculada nos inimigos não poderia estar mais satisfatório! — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

A outra novidade relevante no Rebirth é que agora é possível ajustar a party de batalha em “Configurações de Combate” no menu principal. Você pode criar até três grupos de três predefinidos para trocar entre eles. Ao explorar o mundo, basta abrir o menu de comandos e pressionar L1 e R1 para trocar de grupo. Apesar de dar para mixar sua equipe com Aerith, Tifa, Barret, Red XIII e Cait Sith (em alguns momentos), Cloud é inalterável até o final do jogo.

Além do jogo também oferecer tutoriais para que os jogadores refresquem a memória, há também os ajustes das armas dos personagens que podem ser feitos de modo manual pelo o jogador ou automático priorizando ataque, defesa ou um balanço entre os dois.

Apesar da grande repaginada que Final Fantasy VII recebeu, Rebirth não apresenta mecânicas voltadas para pessoas com deficiência.

Cuidado com os mini games, você ficará viciado!

A pluralidade de mini-games é estarrecedora, e não digo isso como ponto negativo, a essência de Final Fantasy nunca esteve tão presente! Espere se deparar com jogos que vão desde desfiles a uma espécie de Fall Guys com sapos.

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O jogo reserva aos jogadores várias cenas hilárias com DNA de FFVII — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Queen’s Blood é um das dezenas de novos mini games que Final Fantasy VII Rebirth tem no currículo. O jogo de cartas é um meio para que Cloud conheça outros personagens, aprofunde laços e os jogadores contemplem novos desafios. 

Apesar de se tratar de um cardgame, as semelhanças com Gwent param por aí, já que a mecânica de Queen’s Blood se mostra mais profunda do que a presente no jogo da CD PROJEKT RED. Em tese, o Queen’s se utiliza do tabuleiro formado por três linhas, e de regras que variam dos valores de sobreposição e efeitos especiais de cada carta para subir as classificações. 

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Os mini games de fato são um jogo à parte, não deixe de jogá-los — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

Dentre os demais jogos, um que vale ser destacado são os desafios de Fort Condor, onde os protagonistas se tornam bonecos poligonais (como no Final Fantasy VII original de 1997) e tem que combater os inimigos em um jogo de tabuleiro comandando um exército de soldados.

Espere se deparar com uma enorme pluralidade de mini games opcionais envolventes ao longo das missões, principalmente em Gold Saucer onde facilmente você perderá muitas horas. 

Um Legado pesado

É impossível falar de Final Fantasy sem comentar sobre a icônica trilha sonora que marcou gerações. O que espera vocês nessa jornada são músicas nostálgicas com arranjos que respeitam o legado do título VII e transições tão sutis quanto uma queda de uma pena da asa de Sephiroth.

Final Fantasy VII Rebirth é o segundo lançamento do projeto “remake” de Final Fantasy VII, e entrega uma jornada imersiva, sentimental e que pode convergir a opinião dos jogadores desatentos aos detalhes. 

Crítica: Final Fantasy VII Rebirth
O uso de paralelismo em linhas temporais, representações alusivas na narrativa e a inserção figurativa do “sombrio” e “luz/correto” nos Whispers, por exemplo, podem ser elementos que vão fazer muitos fãs se abarrotarem em teorias — Reprodução/Final Fantasy VII Rebirth

O jogo também conta com legendas em português brasileiro, assim como o Remake. Ao mesmo tempo que a localização serve acertos como “Seu Delfinho”, inserem gírias como “vambora” e entre outras em personagens que de fato nunca as usariam dessa forma. Alguns pequenos erros de digitação também podem ser encontrados ao longo do jogo – um até mesmo trocando o nome de um personagem por Vincent, o que claramente não foi proposital na trama.

Com uma enxurrada de nostalgia repaginada e alguns bugs em missões opcionais, esse título se destaca como um jogo de transição e prepara o terreno para a grande reunião que está por vir.

O novo jogo da Square Enix será lançado no dia 29 de fevereiro de 2024 para PlayStation 5.

*Chave para PlayStation 5 cedida antecipadamente pela Square Enix*