A segunda temporada de The Witcher já está disponível na Netflix desde sexta-feira (17/12), gerando muita comoção e discussão entre os fãs. Entretanto, uma reclamação corriqueira tem-se destacado nas redes sociais: a forma que a legenda se refere aos cavaleiros da “Perseguição Selvagem”. Afinal, o termo está incorreto?

Perseguição Selvagem é uma tradução incorreta?

A resposta é: não! Trata-se apenas de um bom e velho argumento de “livros vs. jogos”, presente desde a primeira temporada. Como podemos ver na imagem abaixo, os livros traduziram o termo polonês “dziki gon” como “Perseguição Selvagem”, enquanto o mesmo termo foi traduzido como “Caçada Selvagem” no renomado jogo da CD Projekt Red, The Witcher 3.

trecho dos livros escrito perseguição selvagem
SAPKOWSKI, Andrzej. Tempo do Desprezo. São Paulo: Wmf Martins Fontes, 2017. 347 p.

Isso quer dizer que o livro está traduzido errado? Muito pelo contrário! A tradução de Tomasz Barcinski é altamente elogiada pelo autor original, Andrzej Sapkowski, sendo destacada pelo próprio como uma das melhores traduções de sua obra ao redor do mundo. A versão foi até mesmo utilizada pelos portugueses como base para a tradução do Português Europeu.

Mas então, porque a divergência? A palavra “gon“, de “dziki gon“, é derivativa de “gonić” (perseguir) ou “goni” (perseguindo), mas no contexto geral, “gon” também pode ser traduzido como caça. Os livros foram diretamente traduzidos do polonês, língua que permite essa variação. Já a tradução dos jogos foi feita do inglês, onde o termo “Wild Hunt” não permite outra tradução que não “Caçada”. 

A “Perseguição Selvagem” em The Witcher 3

Nas edições mais recentes, a WMF Martins Fontes atualizou o termo para “Caçada Selvagem”, muito provavelmente para se adequar a uma grande parcela do público que migrou dos jogos para os livros, assim diminuindo a distância entre as obras. Então porque a Netflix não se adaptou também?

Por que não mudaram?

Desde a primeira temporada, observa-se que a plataforma está deixando claro que a série adaptará os livros, não os jogos, de forma a evitar frustração dos fãs da CDPR. É praticamente uma certeza que os tradutores da Netflix tenham sido orientados a usar o livro como base para suas traduções, já que vemos desde a primeira temporada que os nomes de personagens e eventos estão alinhados com os livros.

Apesar da segunda temporada ter se reaproximado da linguagem visual de The Witcher 3, com referências diretas ao jogo, não é de se surpreender que a tradução continue seguindo a tradução das primeiras edições dos livros no Brasil. Isso é observado até mesmo no filme de animação “Lenda do Lobo”, que trata o processo de mutação dos bruxos como “Prova das Ervas”, diferente do “Teste das Ervas” de The Witcher 3.

SAPKOWSKI, Andrzej. O Sangue dos Elfos. São Paulo: Wmf Martins Fontes, 2017. 322 p.

Quem está certo?

Entretanto, essas não são as únicas divergências de tradução. Nomes de personagens, por exemplo, variam muito, oscilando entre versões em português, inglês ou polonês. Um grande exemplo são os inúmeros cavalos de Geralt, que podem ser chamados de Carpeado (português), Płotka (polonês) ou Roach (inglês) – todos os nomes sendo baseados no mesmo peixe. Qual está certa? Todas.

Pode-se justificar que os termos de The Witcher 3 sejam mais corretos por terem sido popularizados pela maior difusão do jogo, em 2015. Que os termos do livro sejam mais corretos por terem vindo antes, em 2013. Mas não acredito que a questão seja essa – frustrações com traduções não são novidades em nenhuma em fandoms internacionais, mas nesta “Perseguição Selvagem”, a Netflix não fez nada de errado.

A segunda temporada de The Witcher já está disponível apenas na Netflix.