Yasuke | Crítica  – Quem nunca escutou sobre a lenda do Samurai Negro? Yasuke era de origem africana e serviu Oda Nobunaga no período Sengoku. Yasuke chegou ao Japão em 1579 a serviço do missionário jesuíta italiano Alessandro Valignan e a Netflix recontou essa trama de uma forma curiosa.

A grande verdade é que pouco se sabe sobre sua vida e a principal fonte para a sua história no Japão foi escrita pelo missionário jesuíta Luís Fróis, o que abriu um leque de opções para a plataforma explorar sua trama, que por si só tem um grande potencial – mas não foi o que aconteceu.

Logo no primeiro episódio somos apresentados a uma grande bagunça temporal, onde contamos com um Japão Feudal com robôs – melhormente conhecidos como mechas, robôs geralmente bípedes controlados ou não por um piloto. Na trama central vemos Saki, que desenvolve uma doença misteriosa e poderosa e então sua mãe Ichika pede para que o nosso samurai Yasuke as levem de barco para um médico específico.

Yasuke Crítica
A relação do Yasuke com a Saki de “pai e filha” é fofinha!

Ainda no primeiro episódio os melhores momentos são proporcionados pelo flashback onde Nobunaga fica intrigado com a cor de pele do até então serviçal e fica encantado com seu estilo de luta. Em uma rápida interação, o samurai se apresenta como Eusebio Ibrahimo Baloi de Yao e então o grande general o apelida de Yasuke.

O gancho do primeiro episódio nos apresenta mais flashbacks da trama -ainda bem, já que são os únicos pontos altos da animação-. Nobunaga revela a Yasuke que mechas com armaduras potentes deram vantagem aos mongóis e foi assim que eles conquistaram as Ilhas de Tsushima e o que os levou a roubar essa tecnologia.

Agora é o momento em que eu me perguntei se de fato os mechas seriam importantes para trama, não é mesmo? Depois de toda essa introdução e mais algumas aparições desnecessárias de um mecha pontual, os robôs se mostram totalmente descartáveis para trama, deixando claro a necessidade de nem precisarem estar ali.

O caminho não trilhado

Visivelmente o calendário do estúdio MAPPA não favoreceu Yasuke diferentemente de como o trailer nos mostrou, mas está longe de ser o principal problema. Criada por Lesean Thomas e com produção executiva da Flying Lotus, a animação se mostrou uma grande perda de potencial. Nick Jones Jr que foi o responsável pelo roteiro pareceu extremamente perdido ao contar a história de Yasuke e optou por contar a trama de Saki que envolveu o samurai, ou seja, a trama de fato não é dele.

Outro ponto positivo que vale ser destacado é o belo design de personagens feito por Takeshi Koike, mas infelizmente não podemos falar disso da direção de Satoshi Iwataki que apresentou uma inconsistência enorme entre cenas rápidas empolgantes e outras descartáveis que não acrescentaram em nada na trama. -Eu ainda me pergunto o que o Sato Takeru estava fazendo como assistente, mas vamos continuar-.

Enquanto no presente mercenários encontram Yasuke em seu barco com Saki e Ichika, no flashback somos levados de volta a 1581, onde Yasuke e Natsumaru se tornam guerreiros leais a serviço de Nobunaga. Fica claro que a trama tinha um grande potencial quando cita as batalhas com o Clã Iga, legado de Nobunaga e a aceitação/respeito dos forasteiros para com Yasuke.

Onna-Bugeisha é outra personagem que deveria ter mais destaque e tempo de tela, já que ela ajudou a moldar o futuro do nosso protagonista durante os flashbacks, mas infelizmente não espere mais do que isso. Apesar da sua ligação com o brasão mostrado do colar que Saki pertence -que também não é explicado-, temos uma reviravolta pouco envolvente.

Yasuke Crítica
Tanto potencial perdido…

Poder é poder? Bagunça é bagunça?

Os 3 primeiros episódios do anime transitam frequentemente entre o atual e a Era Tensho em 1581 onde Yasuke era um verdadeiro samurai a serviço de Nobunaga. No atual, a trama começa a se tornar interessante após um grupo de mercenários, que parece mais uma party bagunçada de RPG, que foi contratado por Padre aparece.

A motivação por trás do Padre é excelente, já que ele revela que deixou a jovem Saki com Ichika para que ela fosse criada e depois de crescida ele iria buscá-la para usar o enorme poder da jovem a fim de conquistar a Europa e a Igreja Católica.

Já podem esquecer essa trama interessante, pois tudo acaba em menos de 5 minutos com o Padre se tornando um mutante e Saki usando o seu poder que há 20 minutos nem sabia que existia. Tudo no roteiro não é bem estruturado levando o espectador a não compreender a origem e nem a grandeza dos poderes mágicos naquele mundo.

black samurai
Para que mechas??

O grupo de mercenários que se apresentam puramente na trama como gananciosos, ao final se envolvem na trama de forma rasa o que te faz questionar o motivo pelo qual colocaram suas vidas em risco para defender Saki no episódio 6.

Com Yasuke acompanhando Saki ~após derrotar mais uma inimiga descartável a mando da verdadeira vilã Daimiô~ chegamos ao núcleo do médico misterioso. Esse médico atualmente gere uma escola “para Jovens Superdotados” a fim de parar com os planos malignos de Daimiô ~que na verdade é um forte ser maligno preso em uma espécie de árvore~.

Com um potencial desperdiçado e um poder totalmente incompreensível, esse médico nos apresenta o Plano Astral que é onde a verdadeira vilã está tentando tomar os poderes de Saki; que aprendendo a ser autodidata rapidamente consegue bloquear as investidas de Daimiô.

Na reta final da trama temos a melhor cena do anime, o confronto entre o general sombrio mascarado e o nosso protagonista. Na verdade não podemos falar que de fato a luta é uma sakuga, mas apresenta uma boa movimentação, porém deixa a desejar por ser extremamente rápida.

Em um piscar de olhos descobrimos que a vilã quer obter o poder de Saki para conseguir viver mais um século e então o médico e seus homens formam um escudo protetor ao redor do templo e a nossa dupla principal segue para o Castelo Azuchi para o confronto final.

O anime infelizmente não apresenta uma trama envolvente e tenta beber da mesma fonte que Samurai Champloo, porém passa longe de fazer isso com maestria. Yasuke entrega uma grande bagunça não só na trama, como também na trilha sonora que ao invés de ajudar na imersão, gera uma estranheza. Uma excelente trilha sonora que não era para ser utilizada nesse material.

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Yasuke maravilhoso, ícone que merecia mais!

Dublagem

Um ponto que vale destaque é para nossa dublagem nacional que mais uma vez entregou um excelente trabalho. Com a direção de Erick Bougleux, Duda Ribeiro deu a voz ao nosso samurai de forma majestosa. Luísa Viotti, Rodrigo Ribeiro, Alexandre Maguolo também participaram da dublagem do estúdio Som de Vera Cruz.

Honrou?

Yasuke apresenta tudo que uma trama com potencial não deve fazer. O anime estará disponível na plataforma a partir do dia 29 de abril e conta com 6 episódios, cerca de 28 minutos cada.

Acesso antecipado cedido pela Netflix

REVER GERAL
Roteiro
Design
Trilha Sonora
Direção
Animação
Thai Spierr
Crítica, criadora de chocobo e consumidora de animes e games em tempo integral. Especialista em estudos sobre acessibilidade e classificação etária em jogos
yasuke-o-samurai-africano-criticaCom uma dublagem excelente, Yasuke apresenta tudo que uma trama com potencial não deve fazer! Confira a nossa review completa de Yasuke da Netflix.