Resident Evil Village | Crítica Até onde um pai iria para salvar sua filha? Estaria disposto a enfrentar hordas de monstros para tal? É isso o que saberemos agora, na análise de Resident Evil Village.

Lançado oficialmente no último dia 7 de maio, Resident Evil Village é a nova entrada da já consagrada franquia de horror da Capcom, tendo mais de dez títulos na linha canônica da série.

Sendo uma continuação direta (literalmente) de Resident Evil 7, aqui tomamos novamente o controle de Ethan Winters, protagonista do primeiro jogo e sobrevivente do horror na casa dos Bakers. O jogo se passa três anos depois do incidente em Louisiana e agora Ethan e Mia Winters estão vivendo uma vida leve e tranquila, cuidado de Rosemary, a filha do casal.

Eu vou te salvar, filha!

Em primeiro lugar, é altamente recomendável jogar o título anterior para entender melhor a história por completo. Village ainda te dá uma colher de chá e você pode optar por assistir um resumo do jogo anterior. Então, de antemão, recomendo fortemente jogá-lo por completo antes de se aventurar neste título.

Tudo muda quando Chris Redfield invade a casa dos Winters, atira em Mia e leva consigo a pequena Rose. Após essa confusão inicial, Ethan acorda em um vilarejo no meio da Europa, que está vivendo um rigoroso inverno. Sem saber muito onde está, e procurando sua filha desaparecida, Ethan embarca em mais uma horripilante aventura.

Resident Evil Village | Crítica
Que fofinha!

Visão em primeira pessoa

A Capcom nunca teve medo de mudar alguma coisa na franquia, e desde Resident Evil 4 temos alguma mudança aqui e ali. Na aventura solo de Leon, tivemos a inovadora visão ” por cima do ombro”, que virou tendência na indústria, com vários jogos copiando o estilo. Até porque, imagina a série tendo jogabilidade tanque até hoje?

Ficamos com essa visão por alguns jogos, e agora, a partir do 7, ela novamente mudou o estilo de jogo, tornando-o um jogo em primeira pessoa, causando um certo estranhamento no começo. 

Sendo assim, agora temos a visão dos olhos do protagonista Ethan, em um FPS clássico. Conseguimos ver suas armas, mãos e pernas. Como tudo na vida é questão de adaptabilidade, eu confesso que estranhei um pouco ao jogar o 7, mas nada que o costume não resolva. E assim foi com Village. Já acostumado à jogabilidade, foi tranquilo encarar aquela neve intensa, e de toda a sorte de monstros que temos de enfrentar.

Leon estaria orgulhoso

Para produzir Village, a Capcom buscou, sem a menor cerimônia, inspiração em Resident Evil 4. Aqui teremos um pequeno spoiler. Como já é bem dito no título do jogo, e pelo que vimos em trailers e demos, o jogo se passa em uma vila, assim como o 4. Além disso, temos a “volta” do mercador e a maleta de itens. E, sim, você pode evoluir suas armas, comprar coisas, vender. Tudo igual ao 4.

E aqui entra um ponto baixo do jogo, tal qual era no quarto título numerado: você não precisa se preocupar com gestão de itens. Dessa vez a Capcom optou por dividir a maleta em partes. Cada parte da maleta é destinada a uma coisa. Uma parte só para armas e itens de cura; já outra parte é somente para itens-chave (literalmente). Diversos tipos de chaves e outros itens que resolvem puzzles e abrem portas ficam em um lugar separado.

Não existe baú no jogo. Mas também nem precisa. Eu mesmo não precisei descartar nenhum item em absolutamente nenhuma hora do jogo.

Os controles são precisos e respondem imediatamente aos comandos do jogador. Nesse aspecto a Capcom nunca decepcionou. Tudo o que temos em Resident Evil 7, temos aqui também. E em momentos onde ficamos cercados de inimigos, os controles são bons e não te deixam na mão. Quem jogou o 7 não irá estranhar os controles do jogo e outras mecânicas presentes, como o novo jeito de se curar, etc. Não mudou nada. Os comandos são os mesmos, então não tem muito o que abordar por aqui. Em time que está ganhando, não se mexe, já dizia o ditado.

O inimigo é assustador

Assim como no 4, os inimigos derrotados deixam dinheiro pelo caminho. Alguns deixam itens mais valiosos, que podem ser trocados por uma boa grana no mercador. E, falando nisso, você encontra fragmentos de metal e outros recursos pelo cenário, que te possibilitam montar itens, curas, balas, tudo. Há também formas de se aumentar a vida, velocidade, levar menos dano, etc.

O modo para conseguir melhorar seus atributos é mediante caça. Isso mesmo. Você pode caçar animais pelo cenário e transformá-los em carne para oferecer ao mercador. A carne serve somente para isso. Cace, leve ao mercador e pronto. Você aumentará sua vida, por exemplo. Portanto, tire um tempo na sua aventura para caçar os animais e assim melhorar seus atributos no jogo. Ajuda bastante, especialmente nos níveis mais difíceis do jogo. 

Por falar em inimigos, agora eles são mais espertos do que de costume. Demore muito a atirar e eles saem da frente da linha de tiro. Eles vão ter dois movimentos: ou vão jogar o corpo para o lado, apenas para desviar; ou jogam o corpo para frente e ficam cara a cara com você.

Quanto à disponibilidade de munição do jogo, entra um meio termo. Se você fizer um jogo focado em matar tudo o que aparece no caminho, pode ser que chegue nas partes finais do jogo e fique com pouca ou quase nenhuma munição.

Especialmente em uma parte mais para perto do fim da aventura. Mas é tudo contornável. Claro, como disse, se você dar uma de Rambo e quiser atirar em todo mundo, pode ter esse problema. Mas se caso quiser desviar dos inimigos (e espaço para isso tem), sem problemas.

Procurar é recompensador

Um ponto alto em Resident Evil Village é a exploração. Há muitos locais no mapa em que você pode simplesmente ignorar e continuar sua aventura. Mas se caso você tiver disposição para explorar, será muito bem recompensado. O uso do mapa se torna fundamental, e esse novo estilo de mapa introduzido no Remake do 2 ajuda muito. Para os exploradores de plantão, é uma ótima chance.

Ainda falando em mecânicas, os puzzles novamente são uma decepção. Existem poucos, e os que têm são fáceis de resolver. A solução está literalmente na sua cara, exigindo pouco esforço para sua resolução. Aqui não entra o desafio das “bolinhas”, pois são apenas para tesouros, e requer apenas coordenação motora.

Uma mulher de três metros de altura

Uma coisa que me decepcionou um pouco ao jogar toda a campanha foi perceber que Alcina Dimitrescu não era o destaque do jogo. Ao ver todo o marketing que fizeram em cima da vilã, e depois ver sua atuação na aventura, entendi que poderia ter sido melhor trabalhado isso.

E por falar nisso, os vilões de Resident Evil Village tinham um potencial enorme para serem grandes e se tornarem ícones da série como um todo. Os vilões foram bem produzidos pela Capcom e vê-se que foi feito todo um esmero artisticamente falando, mas eles são apenas buchas, nada mais do que isso.

Há pouco ou quase nenhum desenvolvimento de personalidade neles. E olha que eles tinham total potencial para isso. Sabemos mais sobre eles apenas nos arquivos espalhados pelo jogo (uma tradição da série). Uma pena. A família Baker foi mais bem desenvolvida. Eu ainda mantenho a esperança de haver DLC no jogo explorando mais isso.

Mas, em “compensação”, as batalhas com os chefes são gratificantes. Em especial uma. Ela sai um pouco do padrão “Resident Evil” de chefes, e isso traz algo diferente para a série. Um frescor a mais. Eu particularmente gostei muito.

Resident Evil Village | Crítica
É aqui que a mulher de três metros vai te perseguir implacavelmente

Algumas ideias recicladas

E por falar em Dimitrescu, podemos dizer que ela faz o papel de Mr. X neste jogo. Quando estamos lidando com ela, e explorando seu cenário, a gigante te persegue sem parar, tal qual o icônico vilão de Resident Evil 2/Remake. E como acontecia com Mr. X, aqui acontece o mesmo: a música vai aumentando à medida em que Alcina se aproxima de você, te dando uma pequena vantagem para sair dali. Quanto mais alta for ficando a música, mais próxima ela está. E com a vantagem (para o jogador) de que a dublagem também colabora para isso.

RE Engine e o seu potencial

Os gráficos estão espetaculares, como sempre. A RE Engine é incrível e já constatamos isso em títulos anteriores, como vimos nos remakes de Resident Evil 2 e 3. Mas aqui está em um patamar excelente. O nível de detalhamento do cenário, dos inimigos, dos chefes e de pequenas situações no jogo te deixam com os olhos brilhando. Se você não estiver com pressa para terminar o jogo, não custa nada parar para olhar ao redor, especialmente dentro das casas. Tem muita coisa interessante. Até mesmo o protagonista tem um detalhamento incrível em suas mãos.

Os inimigos que Ethan tem de derrotar foram feitos com bastante esmero. Os detalhes são impressionantes. Alguns têm um aspecto realmente monstruoso, dando uma excelente imersão ao jogo e ao tema dele. O nível de detalhamento em alguns inimigos é muito bem produzido.

Mas, mesmo com os gráficos excelentes, uma coisa que sempre me incomodou, desde o Resident Evil 2 Remake, é a falta de animação em algumas partes. Por exemplo, ao usar uma chave, é simplesmente uma animação da chave. Não aparece o personagem fazendo o movimentando de inserir a chave em uma fechadura, nada. Já em outras partes, como o mover de uma manivela, isso acontece. É meio confuso, mas tudo bem.

Resident Evil Village | Crítica
A RE Engine não decepciona. Pode parar seu jogo para admirar o cenário

Música para os ouvidos

A trilha sonora de Resident Evil Village é um capítulo à parte, pois executa com maestria todas as situações do jogo. Em momentos mais tranquilos, de exploração, uma leve música. Quando o “bicho pega” e você tem de derrotar inimigos (ou hordas deles), sobe uma música tensa e alta. O momento mais tenso do jogo é marcado pela excelente trilha. A música foi tão bem escolhida que ela é parte fundamental da construção da apreensão oferecida pelo jogo.

Por falar em sustos, um dos pontos altos da série, e que tinha voltado com tudo no 7, foi novamente esquecido em Village: o medo. Resident Evil 7 conseguiu ser bem mais assustador do que este título, e conseguiu me deixar tenso durante várias oportunidades. Porém, em Resident Evil Village, isso acontece bem pouco, como, por exemplo, no supracitado trecho onde cito a execução da música.

Ethan, eu vou te matar!

Outro ponto alto do jogo, e finalmente trazido para o público brasileiro, é a dublagem. Que trabalho fantástico fizeram aqui. É digna de aplausos. Todas as vozes encaixaram bem com os personagens. O mercador tem uma voz característica e que pareceu pensada para ele. Suas frases de efeito, o jeito de conversar. Tudo encaixou.

E falando em Ethan, fica uma (ótima) impressão de que o personagem está “vivo”, graças ao excelente trabalho do dublador. Claro que não posso citar aqui os tais momentos, porque fazem parte da história, mas é bom ver Ethan nervoso, gritando, esperneando, enfim, reagindo como uma pessoa comum em meio a um pesadelo. Que a Capcom consiga dublar todos os seus jogos a partir de agora. A localização do jogo ficou muito boa. Até palavrões são ditos aqui.

Duas lojas?

Resident Evil Village adota um padrão que começou em Resident Evil 3 Remake: o uso de dinheiro (do jogo) para comprar armas e outras coisas no pós-jogo. Imediatamente após terminar a campanha pela primeira vez, uma “lojinha” aparece, oferecendo balas infinitas, armas novas e várias outras coisas. A forma de se conseguir dinheiro para comprar os itens se dá mediante a desafios. Tal qual em Resident Evil 3 Remake.

Falando em pós-jogo, o aclamado modo mercenários voltou, para a alegria de todos os jogadores que curtem muito esses minigames presentes em alguns títulos anteriores. Bela sacada da Capcom.

Ethan, um herói improvável

No fim das contas, Resident Evil Village é mais uma (excelente) bola dentro da Capcom, mesmo não entregando uma “experiência assustadora”, como foi no 7. De longe, este é o título com a melhor conclusão já produzida para a franquia. Ethan Winters se tornou um bom personagem, um pai capaz de ir até o extremo para salvar sua filha, e que você se importa com ele e suas motivações (você faria o mesmo, admita).

Os fãs mais saudosos do 4 encontrarão aqui uma oportunidade de “revisitar” o jogo antigo. Talvez seja uma carta de amor da Capcom para seus fãs sobre um dos jogos mais vendidos da franquia, que fez história e modificou muita coisa de como vemos (e vimos) Resident Evil.

Key PS4: cedida  pela Capcom

REVER GERAL
Jogabilidade
Trilha Sonora
Roteiro
Localização
Direção de Arte
Vladimir Machado
Considera Masami Kurumada o maior ser humano vivo. Graduado em Letras, é revisor e redator.
resident-evil-village-criticaA Capcom entrega um produto muito acima da média. A falta de terror, como foi marcante no jogo anterior, fez falta. Os puzzles são tão fáceis que nem deveriam ser considerados como um desafio. Jogo oferece muita possibilidade de ter munição, tirando um pouco da graça do "achar" uma caixa de balas para o seu revólver, por exemplo. Gestão de itens, uma marca registrada da série, é praticamente nula. Os principais vilões da aventura tinham enorme potencial para exploração e desenvolvimento de personalidade, mas se resumiram a serem apenas buchas. Alcina Dimitrescu, por exemplo, poderia ter sido melhor explorada. Uma bola muito dentro da Capcom foi a localização. A dublagem está perfeita. Os dubladores captaram bem o espírito dos personagens e do jogo. Gráficos espetaculares. Falar disso é chover no molhado, pois a RE Engine nos mostra boas coisas desde Resident Evil 2 Remake. Exploração do jogo é um ponto positivo, não se limitando apenas à campanha principal. E temos cenários abertos, não sendo como em Resident Evil 3 Remake, em que a aventura toda se passa em corredores.