Desenvolvido pelo pequeno estúdio indie Ticking Clock Games, Void Sails (lançado em 14 de maio de 2025) funde ambiciosamente naves voadoras da era renascentista com o horror cósmico de Lovecraft.

Conceito e ambientação: a promessa Lovecraftiana

O jogador comanda um barco movido a velas solares através do espaço inexplorado para encontrar seu pai desaparecido — um pesquisador ocultista que sumiu ao investigar o Véu, uma barreira dimensional que esconde entidades indescritíveis do Vazio.

A estética de Planeta do Tesouro encontra Cthulhu brilha na arte 2D de livro infantil e em paisagens alienígenas, criando uma atmosfera carregada de mistério. Figuras enigmáticas como o Homem de Amarelo (referência ao mito do Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers) intensificam o terror, enquanto relíquias ocultas e murmúrios entre realidades que corroem a sanidade reforçam as raízes do horror cósmico.

Apesar da coesão visual, os ambientes 3D feitos em Unity parecem mal elaborados comparados às vinhetas 2D impressionantes, e a ausência de movimento vertical no espaço mina o potencial do cenário.

Void Sails
Reprodução/Ticking Clock Games

Mecânicas de jogabilidade: uma experiência desconexa

Void Sails divide sua jogabilidade entre segmentos de RPG baseado em texto e combate naval em 3D — uma combinação que parece desequilibrada. Os controles da nave sofrem com inércia excessiva, causando colisões frustrantes durante exploração e combate.

As batalhas envolvem mirar canhões manualmente ou usar um laser que compartilha recursos, mas a variedade de inimigos é severamente limitada (como robôs giratórios previsíveis). O combate frequentemente vira uma guerra de atrito em que o jogador se sente superado, reduzindo a profundidade tática a quebra-cabeças de tentativa e erro.

Por outro lado, os segmentos de aventura textual brilham com prosa cativante e escolhas significativas (como realizar rituais ocultistas versus apaziguar a Inquisição autoritária). No entanto, seu potencial é sabotado por um sistema punitivo de testes de habilidade. O jogador distribui três atributos — Percepção, Conhecimento, Determinação — por meio de perguntas de histórico, mas falhar nesses testes reduz permanentemente esses atributos.

Isso cria espirais negativas em que evitar testes se torna preferível, especialmente porque consumíveis que aumentam o sucesso parecem inúteis contra a crueldade do RNG do jogo. Elementos de sobrevivência (como suprimentos de comida) não geram tensão, já que recursos permanecem abundantes demais.

Void Sails
Reprodução/Ticking Clock Games

Design narrativo: alta ambição, execução desigual

Os caminhos narrativos ramificados são o maior trunfo de Void Sails. Escolhas como confiar no duvidoso Homem de Amarelo ou resistir a tentações cósmicas remodelam relações de forma autêntica e desbloqueiam múltiplos finais. NPCs bem dublados e vinhetas — criadouros alienígenas, artefatos amaldiçoados — entregam micro-histórias atmosféricas que lembram Hades.

Ainda assim, o enredo principal parece fragmentado. Decisões-chave às vezes têm consequências profundas, enquanto outras se dissolvem em testes binários inconsequentes. As meras três horas de duração pioram isso: personagens permanecem esboçados, e a conclusão da busca pelo pai chega abruptamente, como um contador de histórias parando no meio da frase.

Pior: a mecânica de sanidade — um elemento clássico de jogos lovecraftianos — não tem impacto real. Diferente de obras do gênero, a loucura se manifesta como penalidades em atributos, não como profundidade psicológica ou narrativa, desperdiçando seu potencial de horror.

Void Sails
Reprodução/Ticking Clock Games

Veredito

Com preço de R$56, Void Sails não justifica seu custo. A duração efêmera (3–4 horas) e a falta de incentivos para rejogar colidem com problemas técnicos como travamentos, interfaces desajeitadas e ausência de funcionalidades básicas (como salvamentos manuais).

Embora sua arte 2D e escrita demonstrem a paixão da Ticking Clock, o combate mal elaborado e sistemas desbalanceados fazem a experiência parecer mais um protótipo que um jogo finalizado.

Para entusiastas do mito de Cthulhu ou jogadores em busca de um livro-jogo acolhedor com naves espaciais, Void Sails oferece momentos de encanto. Mas a maioria encontrará suas ambições à deriva em um mar de potencial não realizado. Um preço mais baixo alinharia melhor com seu escopo — até lá, permanece uma jornada de nicho, melhor ancorada até que atualizações ou sequências aprimorem sua visão.

Void Sails
Reprodução/Ticking Clock Games

Void Sails está disponível para PC via Steam.

*Chave para PC para produção desta análise cedida por Ticking Clock Games

REVER GERAL
Enredo
Direção
Trilha Sonora
Jogabilidade
Design
Matheus
Fã de Yu-Gi-Oh!, Drakengard/NieR e Tomb Raider. Nas horas vagas, analista de Relações Internacionais e professor de inglês.
critica-void-sails-e-uma-jornada-imperfeita-pelo-horror-cosmico-e-escolhasCom preço de R$56, Void Sails não justifica seu custo. A duração efêmera (3–4 horas) e a falta de incentivos para rejogar colidem com problemas técnicos como travamentos, interfaces desajeitadas e ausência de funcionalidades básicas (como salvamentos manuais). Embora sua arte 2D e escrita demonstrem a paixão da Ticking Clock, o combate mal elaborado e sistemas desbalanceados fazem a experiência parecer mais um protótipo que um jogo finalizado.