Desenvolvido pela XD International, Etheria: Restart é um RPG de turno baseado em utilização de heróis obtidos via gacha nos moldes de Genshin Impact e Wuthering Waves.
O game se passa em um mundo virtual onde os jogadores constroem equipes com heróis com diferentes atributos e engajam em combates tanto PvP quanto PvE. A equipe d’O Megascópio teve a oportunidade de testar o jogo antes do seu lançamento a convite da desenvolvedora.
Ambição narrativa vs. execução desigual
Ambientado no cenário desolador de uma Terra congelada, Etheria: Restart apresenta a última esperança da humanidade na metrópole virtual de Etheria, onde consciências digitalizadas coexistem com entidades de dados sencientes chamadas Animus.
Essa premissa de ficção científica transborda potencial, explorando temas como sobrevivência digital e conflitos ideológicos entre humanos e Animus corrompidos pelo Vírus Gênesis.
Embora a construção do mundo seja sólida — com facções como a União Hyperlink e ameaças convincentes —, a execução da narrativa tropeça. Missões principais frequentemente caem em clichês previsíveis, diluindo momentos dramáticos com resoluções anticlimáticas. Por exemplo: batalhas cruciais são interrompidas por rivalidades triviais, esvaziando seu impacto emocional.
Sistemas mal implementados, como o de emboscadas, agravam o problema; sequências de furtividade parecem adições apressadas, permitindo que jogadores ignorem combates sem estratégia real . Apesar de designs de personagens marcantes (como uma Animus Ceifeira carregando um caixão ou uma hacker) e detalhes atmosféricos, o enredo fica no aceitável, porém esquecível, desperdiçando sua premissa original.

Jogabilidade estratégica: onde profundidade e acessibilidade colidem
O ponto alto de Etheria: Restart está nos sistemas de combate, que mesclam estratégia clássica por turnos com inovações focadas em PvP. As batalhas enfatizam sinergia de equipe e contra-elementos entre cinco afinidades (Pyro, Aqua, Flora, Volt, Terra), seguindo um sistema de vantagens tipo pedra-papel-tesoura.
Mecânicas de Velocidade (SPD) e Medidor de Turno ditam a ordem das ações, exigindo planejamento meticuloso, enquanto ajustes de comandos em tempo real permitem viradas táticas. A construção de times é excepcional: personagens como Freya (que remove penalidades) ou Kloss (hacker que reduz SPD/DEF) permitem infinitas combinações viáveis, recompensando experimentação sem obrigar ao uso de unidades meta.
O jogo também oferece conteúdo PvE robusto, como raides contra chefes (Limiar, Ruínas das Brasas) e modos roguelike, embora a progressão seja travada por um sistema de energia que pode parecer restritivo.
Contudo, problemas de acessibilidade persistem. Novos jogadores podem sofrer com o complexo sistema de equipamentos Módulos, que oferece por volta de 100 combinações de sets mas carece de tutoriais claros. A interface inicialmente sobrecarrega, embora se torne intuitiva com o tempo. Mesmo com o modo de batalha automática e grinding em segundo plano facilitando a coleta de recursos, a mecânica de emboscada inconsistente e missões repetitivas expõem uma desconexão entre a sofisticação do combate e o conteúdo ao seu redor.

Monetização: generosidade ofuscada por armadilhas
O sistema de gacha vive uma dualidade. Nos banners padrão, Etheria é notavelmente generoso: taxa de SSR de 1,8%, ausência de banners de armas e um sistema de pity garantido em 80 invocações (reduzido de 100 após o lançamento), sem risco de perder o 50/50. A moeda premium (Hydra Crystals) é distribuída fartamente em missões e eventos, possibilitando times competitivos sem gastos — especialmente com unidades SR fortes como Tsukiyo Mi ou Beyotin viáveis no endgame. Duplicatas oferecem apenas melhorias de status, não habilidades essenciais, reduzindo a pressão pay-to-win.
Essa justiça rui com Animus das afinidades Desordem e Constante — unidades exclusivas como Messias ou Mio. Dominantes no PvP com kits absurdos (ex.: invencibilidade, manipulação de turnos), elas exigem triplo da moeda por invocação (por volta de R$ 250 por 10 invocações) e um sistema de pity separado. Isso cria um muro monetário intransponível, arriscando um desequilíbrio similar às unidades Luz/Trevas de Epic Seven.
Enquanto jogadores casuais ou focados em PvE prosperam de graça, aspirantes ao PvP competitivo enfrentam uma jornada exaustiva ou custos proibitivos.

Polimento audiovisual e futuro nas plataformas
Desenvolvido em Unreal Engine, Etheria é uma festa visual. Cenários urbanos banhados em néon, efeitos de partículas etéreos (Snowglow) e modelos de personagens anime lembram a estética de Honkai: Star Rail, enquanto câmeras dinâmicas amplificam as animações de habilidades.
A arte, porém, vacila em movimento: ataques carecem de peso impactante, e ilustrações promocionais nem sempre refletem os modelos in-game. O áudio compensa: uma trilha pulsante eleva a tensão nas batalhas, e as dublagens em japonês/mandarim dão autenticidade emocional, embora falhas ocasionais em vozes quebrem a imersão. O futuro lançamento na Steam (previsto ainda para 2025) pode corrigir limitações mobile, aproveitando o hardware de PCs para melhorias gráficas.

Veredito
Etheria: Restart é um jogo de contrastes. Sua profundidade estratégica e customização de times elevam o padrão do PvP por turnos, apoiadas por visuais deslumbrantes e um gacha justo no núcleo. Porém, superficialidade narrativa, mecânicas inconsistentes e banners predatórios mancham seu potencial.
Para jogadores casuais ou fãs de PvE, oferece uma experiência gratificante e recursos abundantes. Competitivos, no entanto, podem se frustrar com o desequilíbrio das afinidades especiais e riscos de monetização.
Se os desenvolvedores priorizarem balanceamento e refinarem a narrativa em atualizações, Etheria pode se tornar um clássico. Por ora, permanece uma joia por polir — cujos acertos ofuscam, mas não apagam, suas falhas.

Etheria: Restart está disponível para dispositivos móveis, com lançamento da versão de PC na Steam previsto ainda para 2025.
*Jogo para PC para produção desta análise cedido pela XD International