A localização e dublagem de games são pontos extremamente importantes não só por trazer maior proximidade com o público, mas também por acessibilizar o produto para uma gama maior de jogadores. Durante a gamescom latam, que ocorreu entre os dias 30 de abril a 04 de maio, em São Paulo, no Distrito Anhembi. No evento tivemos a oportunidade de conversar com Deco, Diretor de Localização do Brasil da CD Projekt Red.

Veja nossa entrevista!

Cyberpunk 2077

[O Megascópio]: Bom, primeiramente, muito obrigado por essa oportunidade de estarmos conversando sobre esse tópico que é a localização e dublagem de jogos que é um recurso que está chegando com cada vez mais frequência aqui para o Brasil e é de extrema importância. A partir de que momento a CD Projekt Red se sentiu confortável, ou viu que era viável trazer a dublagem e localização para o Brasil?

[Deco]: Bom, primeiramente, obrigado por estar aqui falando com vocês, é um prazer. Bom, a localização, a questão da viabilidade dela, como você falou, é algo que cada vez está sendo mais frequente neste trabalho. Várias empresas estão olhando cada vez mais para a localização, principalmente para o mercado brasileiro, e vários números apontam que a localização é algo que traz muitos jogadores, principalmente em projetos como RPG, que é muito rico, muito complexo, em questão de diálogos e tudo mais.

Então a questão da viabilidade acaba sendo que, sim, fica interessante trazer esse projeto e fazer a localização para o mercado brasileiro, contando áudio, localização completa, para poder adequar, para que isso aumente a imersão do jogador.

[O Megascópio]: Quando se trabalha com a localização, por exemplo com expressões de um país para o outro, piadas ou certas metáforas mais compreensíveis para determinadas regiões, quais cuidados devem ser tomados para fazer esse tipo de tradução e também de dublagem?

[Deco]: O primeiro cuidado que tem que ter é passar o contexto. O contexto é o principal foco que a gente tem, certo? Dentro desse contexto, o que a gente pode usar na nossa cultura é compreensível, da mesma forma que, digamos, foi feito em uma linguagem original para ser em inglês. Esse é o processo que a gente faz. Dentro disso, quando a gente fala em adaptação, o Brasil é um país enorme, com muitas regionalidades, muitas diferenças. Então, a adaptação pode ser feita de várias formas, mas o foco aqui é que todas as pessoas entendam. Porque, às vezes, a localização é uma parte boa, mas localização demais, a um ponto regional demais, pode trazer discrepância e desentendimento. Então, o foco é, sim, trazer o contexto, mas de uma forma compreensível para todos os jogadores.

the witcher

[O Megascópio]: Um ponto que chamou bastante atenção, principalmente no lançamento de Cyberpunk 2077, foi que começou a ser divulgado trailers em diversas linguagens, entre elas estava o inglês, portugues, japonês, entre outras. A dublagem e localização, ela tem impacto no desenvolvimento do jogo em si? De animações, de o que vai ser adicionado na tela ou não?

[Deco]: Digamos, a parte principal é sempre quando a gente segue a ideia original do jogo. Mas por conta das diferenças linguísticas, às vezes algumas adaptações precisam ser feitas. Não só na parte de texto, mas às vezes na parte de cena. Por exemplo, algumas modificações que cruzam com a questão do desenvolvimento é o uso do sistema chamado JALI, que mapeou toda a forma de falar de cada língua, o movimento labial. Então, por conta disso, as cenas ficam diferentes por causa do formato do rosto, a movimentação vai ficar diferente. Às vezes vai ter um que vai mexer um pouco o lado e outro que vai mexer mais o lado. Então, até a cena acaba ficando um pouco diferente por conta da variedade de línguas.

[O Megascópio]: Uma coisa que também levanta bastante a nossa curiosidade é como é escolhido o estúdio para a dublagem do jogo e o elenco? Quais são alguns requisitos que vocês levantam nos estúdios que podem ser responsáveis por esse trabalho?

[Deco]: Ótima pergunta. Pensando no ponto crucial, as parcerias que a gente tem externas, que são as que dão o apoio e oferecem o serviço, certo? Começando pelo estúdio. A gente sempre opta por um estúdio que a gente chama de estúdio boutique.

Não é, às vezes, um mar de pessoas, um estúdio enorme, com salas, com todo equipamento. Mas é um estúdio no qual você tem toda a equipe fácil de comunicação e de fácil adaptação para as necessidades. Por quê? Os jogos da CD Projekt RED são muito artesanais. Eles não entram muito no âmbito de produção. Existe muito ali hands-on. Por conta disso, é necessário que o estúdio se adapte às necessidades. Uma hora precisa de A, uma hora precisa de B, uma hora precisa de C. E todo esse pessoal, sendo um grupo menor, mas muito eficiente, eles sabem das necessidades e a comunicação fica fácil. Então, escolher um estúdio que tenha essa abordagem, a gente chama de boutique approach, é muito importante para os projetos da CD Projekt RED. Isso é um foco que a gente tem muito grande.

Em relação ao elenco, a gente já começa a pensar na localização do personagem. E conforme a gente começa a fazer as pesquisas, partimos do ponto que a gente tem um database casting, que a gente faz a checagem das vozes. Aí as pessoas, onde tem mais potencial que se encaixam naquele personagem, a gente chama para fazer um live casting, do qual a gente dá um script. A gente deixa várias situações de performance, choro, raiva e tudo mais. E dá uma breve explicação sobre o tema e sobre o personagem. Esse contato com o personagem e parte da história é muito importante, porque vai dizer se eu preciso de um trabalho muito grande como dublador, ou se ele já pegou a ideia, a essência do personagem. E na hora, no fim de tudo, o que a gente precisa é a essência. Nem tanto a voz, mas a essência do personagem. 

*Entrevista transcrita por Matheus