Depois de mais de 20 anos, Fatal Fury retorna ao cenário competitivo dos jogos de luta com um novo jogo que carrega todo o espírito dos seus antecessores, algumas surpresas no elenco e muito charme no jogo mais bonito da era atual da SNK.
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Quase dois anos após a sua revelação na EVO de 2023 finalmente temos entre nós a sequência de Garou: Mark of the Wolves, um jogo que apesar de bem nichado, sempre foi absolutamente amado entre os seus jogadores.
De volta a South Town
City of the Wolves, assim como os Fatal Fury anteriores, se passa em South Town, uma cidade governada pelo crime e que também é palco dos eventos da série Art of Fighting.
Desde o Primeiro Fatal Fury em 1991 até o último jogo da série em Mark of the Wolves de 2000, a história dessa cidade e seus habitantes (muitos deles o lutadores de Fatal Fury) veio se desenvolvendo aos poucos e onde iniciamos a história com o icónico Terry Bogard em busca de vingança pela morte do pai nas mãos de Geese Howard, o rei do crime na cidade e no último jogo temos essa passar de tocha para a geração seguinte com Rock Howard, filho de Geese que foi criado por Terry e que busca desvendar os segredos da sua família e legado do pai enquanto evita tomar os mesmos passos dele.

Infelizmente, City of the Wolves não trás muito enquanto ao desenvolvimento da história e do mundo de South Town, mas ele tem alguns modos de jogo que podem nos dar um gostinho da história de cada personagem e como eles se interconectam nessa cidade.
Um passeio pela cidade
Infelizmente, City of the Wolves não conta com muitos modos de jogo interessantes. O jogo é extremamente focado, mas ainda entrega pelo menos alguns modos de jogo e recursos curiosos para quem tem mais interesse em ver mais dos personagens do jogo.
Temos o clássico modo arcade que oferece até uma boa quantidade de diálogos após sua conclusão, e apresentam parte da história dos personagens nesse jogo.

Além do clássico modo arcade, também há o Episodes of South Town que não é muito diferente do modo arcade. Ele tem a outra parte da história dos personagens e também tem um senso de progressão linear enquanto seu personagem passeia pela cidade.
A dinâmica dele é basicamente a de um RPG onde você escolhe suas batalhas pelo mapa do jogo e enfrenta uma série de NPCs para acumular níveis e avançar na micronarrativa que o modo oferece.
Elenco
Contando com 17 personagens do seu elenco base de lançamento, sendo maior parte retornantes do jogo anterior e City of The Wolves adiciona alguns novos personagens que deixam todo o seu catálogo de personagens iniciais com um tom bem curioso.
Retornantes da série Fatal Fury como Mai Shiranui e Billy Kane que não estavam no jogo anterior retornam, mas alguns dos novos personagens como Preecha e Vox Reaper são personagens “filhos” de outros personagens antigos da série, Joe Higashi também de Fatal Fury e Grant de Mark of the Wolves.
E aqui chegamos no elefante na sala. Cristiano Ronaldo e Salvatore Gannaci. Duas personalidades do mundo real adicionadas ao jogo de uma forma aparentemente sem muita razão de porquê.

Felizmente, a presença dessas duas personalidades no jogo traz algo muito inesperado: uma variedade e ousadia surpreendente. Como ambos são personalidades de massa, seria muito fácil fazerem eles de arquétipos mais simples e fáceis de aprender, feitos especialmente para jogadores que não vão necessariamente se dedicar ao jogo mas o resultado final é o exato oposto.
Ambos os personagens são completamente não ortodoxos não só para os arquétipos de jogos de luta, mas até mesmo para uma certa consistência que é possível identificar entre os outros personagens do jogo. Cristiano Ronaldo tem mecânicas únicas com a sua bola de futebol e muitos ataques normais e especiais focados em partir para cima do oponente. Já Salvatore Ganacci surpreende sendo não só o personagem mais engraçado e carismático do jogo com dezenas de animações únicas e engraçadas, mas também tendo o seu gameplay quase que inteiramente baseado em posturas e poses com propriedades únicas.
Levando essa natureza única do CR7 e Salvatore em consideração, após algum tempo estudando os personagens, não demora muito para perceber que em City of The Wolves os personagens, claro, tem suas particularidades, mas também eles são bem homogêneos na forma em que eles funcionam e interagem com os sistemas do jogo. Não há muitos personagens que se destacam por terem formas únicas de jogar além dos dois famosinhos.
Chapa quente!
Hoje em dia todo jogo de luta vive e morre pelo quão forte ou relevante são seus sistemas universais, e não é diferente com City of the Wolves, porém o que se destaca no jogo na verdade é alta quantidade de sistemas que interagem entre si para compor a dinâmica final do jogo.
São realmente vários sistemas diferentes, mas acredito que os que mais se destacam e os que dão a identidade desse jogo são o Rev System e Feint/Break e são os sistemas que eu vou discorrer com mais detalhes nessa review.
Rev System é a novidade de City of The Wolves, o sistema principal do jogo e o que acompanha as famosas barras de super que quase todo outro jogo de luta possui.
O Rev System, nada mais é que um “medidor de superaquecimento” que cada personagem possui e ele se enche principalmente executando golpes especiais nas suas versões melhoradas (tal como os EX de Street Fighter) e se defendendo. Já as melhores formas de diminuir essa barra é andando para frente e acertando golpes no oponente.

Claro, abusar do sistema te põe no estado de superaquecido, onde você perde acesso ao grande potencial de dano dos golpes ex, sua barra de defesa entra em jogo e isso limita muito por quanto tempo mais você pode simplesmente defender a ofensiva do seu oponente antes de ter sua guarda quebrada e potencialmente perder o round.
O maior ponto forte de manter a sua barra Rev sob controle é que seus ataques melhorados podem ser cancelados uns nos outros e, dependendo do contexto, você tem acesso ao Rev Blow, que é um golpe com seu início completamente invulnerável e muitas vezes completamente seguro mesmo se defendido.
Ironicamente isso funciona de uma forma similar ao drive system do Street Fighter 6, onde o jogador tem acesso a todas as ferramentas mais fortes do jogo já no começo do round e fica a cargo do jogador conseguir gerenciar esse recurso para não se botar em uma posição de desvantagem, ou apostar alto e conseguir uma grande margem de vantagem ou até mesmo ganhar o round dessa forma.
Já Feint e Break são mecânicas que já estavam no jogo anterior da série; Garou: Mark of The Wolves, e também são grande parte do que faz esse jogo ser “difícil”, justamente por ser um ponto de execução a mais que pode ser um pouco fora da caixa de como encaixar isso no ritmo normal que você espera de um jogo de luta.
Feints, como o nome implica, seria uma finta de um golpe do arsenal do seu personagem e geralmente vêm em algumas variedades diferentes. Isso tem o seu valor por si só em tentar fazer seu oponente se comprometer com uma ação e puní-lo a partir disso. Entretanto, feints tem um uso prático muito mais utilizado que é o de cancelar os frames finais de recuperação por uma animação mais curta e, portanto, permitindo que tanto combos quanto pressão possam ser vastamente estendidos e mantendo o ritmo do jogo em um nível muito mais acelerado.
Breaks são bem similares a feints, mas eles têm uma função um pouco diferente. Alguns golpes especiais podem ser alterados para terminar mais cedo com uma animação diferente com os breaks e isso muitas vezes implica em propriedades especiais como lançar um oponente mais alto, mais longe ou simplesmente terminar mais cedo e pegar o oponente de surpresa com um golpe inesperado.
Todos os personagens têm acesso à Feints e Breaks e você até pode conseguir se virar bem apenas utilizando as facilidades do Rev System, mas eu consigo visualizar perfeitamente que a grande barreira de aprendizado e excelência nesse jogo é conseguir dominar esse sistema.
Há ainda há mais sistemas no jogo além desses, mas eles são perfeitos para exemplificar que apesar de “acessível” por conta do smart controls que eu abordo mais tarde, ele tem MUITA carne e você pode tomar o seu tempo aprendendo e implementando um sistema de cada vez no seu gameplay.
Extras
O jogo também dispõe de um tipo de customização especial que está disponível com um item dedicado até mesmo no menu principal do jogo, que é o Color Edit, onde o jogador pode alterar não só as cores dos personagens, mas também escolher entre várias opções de estampas diferentes para suas roupas.
À primeira vista o modo de edição de cor pode não ser muito empolgante por serem alterações pontuais, mas depois de frequentar um pouco o modo online do jogo, é difícil sair desse modo com algo que não possa ser único e ser reconhecido pelos outros jogadores só pela seu Terry rosa choque.
Outro modo de jogo um pouco mais curioso é o de clones onde após algumas horas de gameplay registradas, é possível montar uma inteligência artificial que replica basicamente o seu modus operandi dentro de uma partida e isso acaba sendo uma coisa boa pois enfrentar uma uma inteligência artificial que replica os seus padrões pode muito bem servir como material de estudo adicional para o seu desenvolvimento e também te dá a oportunidade de jogar com clones de todos os outros jogadores.
Localização e Acessibilidade
O jogo tem uma localização em português do brasil no seu lançamento para as legendas e menus do jogo, porém em muitos pontos das mini cutscenes de história é possível ver que as legendas não foram devidamente editadas para caber corretamente na tela.

Quanto à acessibilidade, infelizmente City of the Wolves não oferece nenhuma opção dedicada para qualquer tipo de desabilidade, mas ele oferece um esquema de controles simplificado que faz um bom trabalho de “pular” algumas etapas da execução e ajudam a fazer jogadores mais novos a enxergar a parte realmente divertidas de jogos de luta que é o processo de tomada de decisão e mind games.
Veredito
Fatal Fury: City of the Wolves sem a menor sombra de dúvida, é um jogo difícil. Ele vai pedir muita prática com vários sistemas diferentes e muita execução do jogador, mas isso não impede ele de ser um jogo eletrizante da sua própria maneira e satisfatório de jogar quando o seu ritmo finalmente clica com você.
Os modos singleplayer do jogo deixam a desejar? Sim. Eles em sua grande maioria funcionam apenas para dar um pequeno sabor do mundo de South Town e nada mais além disso, mas para os amantes do gênero acaba se tornando uma parada obrigatória entre os melhores jogos de luta atuais e com certeza vai ser um dos mais interessantes de se acompanhar ao passar dos próximos anos de suporte que temos pela frente.
A SNK nos últimos anos tem nos entregando novos jogos das suas antigas séries da era Neo Geo, primeiro com The King of Fighters, Samurai Shadow e agora com Fatal Fury e em todos esses revivals o que a SNK mais deixou claro é que ela ainda entende perfeitamente como os jogos clássicos funcionam, seu charme e como transportar eles para o cenário moderno de jogos de luta.
Fatal Fury City of the Wolves já está disponível para PS4, PS5, Xbox Series e PC via Steam.
*Chave para review cedida por SNK